70 Dias de Trump

Ontem li sobre Xiaofeng Wang, um professor de ciências da computação da Universidade de Indiana que teve as casas invadidas pelo FBI. Ele é especialista em criptografia, cibersegurança e privacidade. Seu perfil na página da universidade, telefone e conta de e-mail foram apagados sem explicação do motivo. No momento em que escrevo isso, ninguém sabe onde ele está.

Hoje li que centenas de estudantes estrangeiros nos EUA receberam e-mails que pediam que eles se autodeportassem por conta de postagens “antinacionais”. Essa medida seria consequência dos esforços chamados de catch and revoke, uma iniciativa do Departamento de Estado estadunidense de usar “inteligência” artificial para localizar e revogar vistos em massa. 300 estudantes teriam tido seus vistos revogados só nas últimas 3 semanas.

Já perdi a conta da quantidade de vezes que li sobre truculência da ICE e tratamento desumano de imigrantes detidos nos EUA desde o início do ano. A última vez foi ontem, relatos de brasileiros.

Sei que Bannon é proponente de uma estratégia de “inundar a zona”, fazer a mídia e o público processarem tantos absurdos ao mesmo tempo que a maior parte das coisas passa despercebida. Em suas próprias palavras:

The media can only – because they’re dumb and they’re lazy – they can only focus on one thing at a time. […]

And all we have to do is flood the zone. Every day we hit them with three things, they’ll bite on one, and we’ll get all of our stuff done. Bang, bang, bang. These guys will never – will never be able to recover. But we’ve got to start with muzzle velocity. So it’s got to start, and it’s got to hammer.

Talvez eu esteja sendo a vítima perfeita dessa estratégia, mas hoje foi inevitável para mim afastar a sensação de que Trump 2.0 está sendo capaz de muito mais danos, em menos tempo. Parece-me que ele e seus asseclas não são mais “hamsters em helicópteros de ataque”¹. Eles se planejaram para não mais tropeçarem na burocracia e nas instituições. Parece que está dando certo.

A incompetência da extrema direita era um alívio. O então futuro “superministro” da Economia de Bolsonaro em 2018 parecia ter desconhecimento do processo de aprovação do orçamento e da impossibilidade de votação de PEC com uma intervenção federal em curso no Rio. Causou má impressão no presidente do Senado na época.

Se for fato que a extrema direita estadunidense está mais apta – ou menos inapta – nessa nova iteração trumpista, a daqui deve estar tomando notas de como isso foi feito.