Tédio e Compulsão

Acho que sabemos que estamos diante de uma leitura importante quando, além de nos apresentar novos conhecimentos, ela nos oferece ideias compactadas que subitamente oferecem uma nova inteligibilidade a fenômenos familiares¹.

É como se observássemos algumas sensações e fenômenos com olhos míopes. Sabemos que eles estão lá, mas não conseguimos delimitá-los muito bem. Sabemos que eles existem, mas não muito bem definidos.

Tenho tido essa percepção repetidamente durante a leitura de Realismo Capitalista. Termino um capítulo às vezes com mais de um momento Aha! Então é isso que se passa e eu não sabia definir direito.

Também tem acontecido de após a leitura de um texto num blog, de uma notícia ou de um post na Federação, eu pensar num trecho do livro. Um paralelo que estabeleci ontem foi entre as experiências do Kev Quirk com o YouTube Shorts e o trecho abaixo:

Talvez o sentimento mais característico de nosso momento atual seja uma mistura de tédio e compulsão. Embora saibamos bem que são entediantes, nos sentimos compelidos a fazer mais um teste no Facebook, a ler mais uma lista do Buzzfeed, a clicar em fofocas de celebridades sobre alguém com quem não nos importamos. Nós nos movemos incessantemente em meio ao entediante, mas nosso sistema nervoso está constantemente tão superestimulado que nunca desfrutamos o luxo de nos sentirmos entediados.

Ninguém está entediado, tudo é entediante.

Assim como o Kev, eu achava inexplicável como as pessoas perdiam horas no TikTok², mas fui ficando gradualmente viciado nos Shorts. Eu precisaria me esforçar bastante para definir o apelo desse tipo de conteúdo. É curto demais para ser informativo. Até pode ser informativo, mas é menos do que qualquer outra coisa em outro formato. Às vezes é até engraçado, mas nem tanto.

Para todos os fins, é entediante. Eu não consigo aproveitar o luxo de estar entediado.

É tédio, mas estou perdendo horas com isso. É tédio e compulsão.

Ninguém está entediado, tudo é entediante.