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É de compreender que sobretudo nos cansamos. Viver é não pensar.

Memórias Do Subsolo

fiction russia
Autor(es): Fiódor Dostoiévski
Editora: Penguin-Companhia
Páginas: 184
Idioma: português
ISBN-13: 9788582852477
ISBN-10: 8582852479

Estava bem cansado de estudar quando iniciei essa leitura. Precisava de um livro curto e que me deixasse “grudado” nas páginas logo de cara, não tinha tempo nem energia para algo que só fosse me envolver depois de alguns capítulos.

Por sorte, Memórias do Subsolo era o livro mais curto no Kindle. Dei uma chance e logo de cara fui arrebatado por essa rabugice aqui:

Sou um homem doente… Sou um homem raivoso. Sou um homem sem graça nenhuma. Acho que sofro do fígado. Na verdade, não tenho a menor ideia da minha doença nem sei direito o que dói. Não me trato e nunca me tratei, apesar de respeitar a medicina e os médicos. Além do mais, sou supersticioso ao extremo; bem, pelo menos o bastante para respeitar a medicina. (Sou instruído o suficiente para não ser supersticioso e, mesmo assim, sou supersticioso.) Não, meus senhores, eu não quero me curar da raiva. E isso, não há dúvida, é uma coisa que os senhores não vão se dar ao trabalho de compreender. Mas, muito bem, eu compreendo os senhores. Claro, neste caso, não sou capaz de explicar quem é que estou infernizando com a minha raiva; sei muito bem que não posso, nem de longe, causar dano aos médicos, por não me tratar com eles; e sei, melhor do que qualquer um, que, com isso, só prejudico a mim mesmo e mais ninguém. Porém, apesar de tudo, se eu não me trato, é de raiva. O fígado está doendo; pois que doa ainda mais!

Não tinha como deixar de lado um narrador desse.

O que se segue é uma novela em 2 partes, em que essa 1ª, mais dissertativa, compreende o narrador se dirigindo a uma audiência sempre em tom defensivo. Ele apresenta suas visões sobre as correntes filosóficas e políticas em voga na Europa e sua resistência a importá-las para a Rússia.

A época da novela é a do Império Russo pouco após a abolição do regime de servidão. Havia toda uma contradição entre as ideologias “modernas” vindas da Europa e uma Rússia que tentava se modernizar tardiamente importando tendências.

O texto de apresentação do tradutor Rubens Figueiredo é muito bom para situar o leitor nesse período histórico. Recomendo essa edição da Penguin por conta disso.

A 2ª parte da novela é mais narrativa. O narrador conta 3 causos de sua juventude: um envolve um círculo de “amigos”, um outro uma pessoa de posição social mais elevada que ele deseja provocar para arrumar uma briga e um outro envolve uma mulher.

Nessa parte vemos uma certa justificativa para todo o ressentimento, contrariedade, fraqueza e rabugice do narrador. Às vezes, para nosso desespero, nos identificamos bastante com o narrador. Em outras situações, só rimos do exagero de seus afetos. Em nenhum caso ficamos entediados.

Se todo Dostoiévski for bom assim, tenho muitas leituras boas pela frente ainda. Foi meu 1º contato com o autor. Certamente não será o último.

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