Sandman - Terra dos Sonhos

Esse é o 3º arco de The Sandman, que compreende os fascículos #17 a #20.

Li esse arco como li o arco A Casa de Bonecas, nas edições separadas em inglês, porém publico como se tivesse lido no volume único da Conrad, que foi a forma em que li o 1º arco.

Acho que esse é o menor dos arcos de The Sandman em quantidade de páginas. São apenas 4 histórias independentes entre si. São elas:

Calliope

Aqui um autor frustrado por bloqueio criativo faz um acordo com um autor mais velho: em troca de um tricobezoar, o autor frustrado leva para casa uma musa que o autor mais velho tinha capturado e mantinha em cárcere.

Descobrimos em certo ponto que a musa, Calíope, tinha sido amante de Sonho em certo ponto e que ele poderia ajudá-la a se libertar se não estivesse também aprisionado¹.

Uma vez liberto, Sonho ajuda Calíope impondo um castigo brutal ao autor que a mantinha aprisionada. O relacionamento entre Sonho e Calíope será elaborado mais para frente na obra.

A Dream of a Thousand Cats

Uma fábula protagonizada por gatos. Um gato doméstico sai de casa para escutar uma gata que vai “pregar” num cemitério.

Lá ela conta a sua história para uma audiência de outros gatos vindos de vários lugares diferentes. Nela, ela conhece um gato de rua que se torna seu amante. Eles geram uma ninhada que ela ama muito.

Os seus donos não ficam satisfeitos pois ela é uma gata de raça e a ninhada é uma ninhada de gatos sem raça definida. Os filhotes acabam mortos pelos donos.

Desolada, ela sonha e se encontra com Morpheus no Sonhar. Na conversa entre Morpheus e a gata, uma realidade alternativa é apresentada. Uma em que os gatos mandam no mundo e os humanos são subordinados a eles. Um dia, esse mundo é subvertido por um homem que ousou sonhar que eles eram a espécie dominante. Esse homem convenceu mais alguns humanos a ter o mesmo sonho e esse sonho formatou a realidade.

A gata desde então fez de sua missão de vida apresentar esse conceito aos outros gatos que encontra em suas andanças pelo mundo.

Apesar de parecer um desvio completo da história de The Sandman, alguns conceitos importantes para o universo da história são reforçados aqui como por exemplo o de que sonhos formam a realidade e de que Morpheus existe para toda criatura capaz de sonhar.

Gostei demais da história nesse fascículo. Diferente de tudo que veio sendo feito em The Sandman até aqui, mostra a versatilidade e a genialidade do Gaiman.

A Midsummer Night’s Dream

Aqui descobrimos que Sonho de uma Noite de Verão, de Shakespeare, foi uma peça encomendada por Sonho. O primeiro encontro entre Morpheus e Shakespeare é mostrado brevemente no arco A Casa de Bonecas, mas nunca ficamos sabendo no que consistiu a conversa entre os dois até esse fascículo.

Acompanhamos a estreia da peça num campo próximo de Wilmington. A audiência são criaturas bizarras do reino das fadas, incluindo algumas que aparecem na própria peça.

Essa é das histórias mais aclamadas do universo de The Sandman, sendo inclusive premiada, mas foi a que menos gostei desse arco. O inglês arcaico da peça tornou a leitura bastante “travada” para mim.

Façade

Talvez minha história preferida. Acho que tem a ver com a aparição da Morte e a ansiedade social da protagonista.

Aqui acompanhamos os últimos dias de Urania Blackwell, uma super-heroína com poderes de transmutar seu corpo em qualquer elemento.

Ela vive enclausurada em seu apartamento por conta de sua aparência, só tendo contato com outro membro de sua antiga “companhia²” por telefone e raramente saindo. Deseja constantemente morrer, mas os seus poderes a tornam invulnerável.

Quando precisa sair, Urania cria um rosto baseado em silicato e cabelos baseados em metais (é citado que suas tentativas de se transmutar em carne não são bem sucedidas). Esse rosto de silicato eventualmente cai e Urania tem vários deles espalhados pelo seu apartamento. O restante do corpo é simplesmente coberto por roupas.

Um dia ela recebe um convite para ir jantar e o seu rosto cai no prato que ela havia pedido. Chorando, volta para a casa e acaba encontrando com Morte que a orienta em como conseguir uma morte misericordiosa de Ra. O destino original de Morte era o apartamento de uma vizinha no andar de cima, mas Urania, em seu desespero, deixou a porta aberta permitindo que Morte entrasse ao ouvir o choro de Urania.

Gosto muito dos comentários sobre o tratamento dado a deficiências visíveis e especialmente sobre o apego às nossas “antigas identidades, faces e máscaras”. Esse último ressoou em mim por ansiedades e medos que mantenho mesmo que não sirvam mais ao seu propósito original.