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É de compreender que sobretudo nos cansamos. Viver é não pensar.

Um Homem de Verdade

fiction ussr war
Autor(es): Boris Polevói
Editora: Editorial Vitória
Páginas: 389
Idioma: português
ISBN-13: 0
ISBN-10: 0

A história narrada aqui é a do piloto de caça soviético Alexis Meressiev. Em 1942, ele foi derrubado atrás das linhas alemãs. Com as pernas bastante machucadas, se afastou dos destroços de seu avião e voltou até forças amigas. Alexis fez a maior parte do trajeto rastejando.

A jornada inteira durou 18 dias. 18 dias se alimentando do que encontrava pela floresta, se escondendo dos alemães, resistindo à dor física, arrastando atrás de si pernas severamente feridas.

Depois desse tempo, foi encontrado por membros de um pequeno kolkhoz, que fugiram de sua aldeota porque os alemães tinham ocupado aquele território e mataram alguns de seus habitantes.

Transportado para um hospital em Moscou, tentou tratar das pernas. Foi impossível. Ambas estavam gangrenadas e precisaram ser amputadas. Depois de um período inconsolável, decide que voltará a ser piloto de caça.

Ainda no hospital, inicia um regime de exercícios para reaprender a andar e ganhar a destreza necessária para pilotar um avião com os aparelhos ortopédicos que recebeu. Lutando contra muita dor e cansaço, os exercícios vão aos poucos fazendo efeito. A determinação de Alexis é tão grande que ele decide aprender a dançar depois de transferido para uma clínica da Força Aérea em que era feita a fase final de convalescença de pilotos.

Lutando contra muita burocracia e ceticismo, consegue matricular-se numa espécie de escola de reciclagem para voltar a voar. Vai bem nessa escola e é enviado para a frente a tempo de participar de confrontos aéreos nas proximidades de Kursk.

Durante uma dog fight, abate 3 caças alemães Fw 190 da “Richthofen”, uma unidade da Luftwaffe considerada de elite.

O livro termina com um epílogo em que o autor explica como tomou as notas que viraram esse romance. Ele foi um correspondente do Pravda enviado a um regimento especialmente vitorioso na batalha de Orel. Lá conheceu Alexis e se convenceu de que a história precisava ser contada ao mundo.

Então, se você já estava pensando “puts, esses comunistas e sua propaganda querendo criar uma história de um super soviético que supera tudo”… Pode parar aí. Esse livro é de ficção, mas fortemente baseado em fatos. O homem existiu mesmo. Ele de fato perdeu ambas as pernas e de fato é um às da aviação soviética.

Fiquei com a sensação de que se o soldado soviético médio tinha metade da determinação de Alexis, não tinha mesmo como aquele povo perder a guerra. Como disse um coronel à Alexis após a missão em que abateu os 3 Fw 190:

— Quer saber de uma coisa? Estou orgulhoso de comandar homens como você… Obrigado! E seu companheiro Petrov? Não é espantoso! E todos os outros? Ah, não será um povo dêsses que perderá a guerra…

Até mesmo Göring precisou se livrar no final da vida da crença de inferioridade dos povos do oriente. Muito a contragosto declarou que os soviéticos eram um povo que não conheciam e não compreendiam.

— Reconhece que cometeu um grande crime com o covarde ataque à União Soviética, ataque êsse que levou a Alemanha ao desastre? — perguntou-lhe o procurador soviético, Roman Rudenko.

— Não foi um crime, mas um êrro fatal, respondeu Göring, a voz abalada, baixando os olhos, enraivecido — Tudo o que posso admitir é que agimos levianamente: revelou a guerra uma quantidade de coisas que ignorávamos, de que não tínhamos a menor idéia. Acima de tudo, que não conhecíamos e não compreendíamos os russos soviéticos. Eram — e continuam a ser um enigma. Os melhores sistemas de espionagem mostraram-se impotentes para revelar seu verdadeiro potencial de guerra. Não falo aqui do número de canhões, de aviões e de tanques, algarismos que sabíamos aproximadamente. Não falo do poder e da mobilidade da indústria. Falo dos homens: o homem russo foi sempre um enigma para o estrangeiro. Napoleão também não o compreendeu. Não fizemos outra coisa que repetir o erro cometido por êle.


Não anotei mais trechos desse livro porque ele foi um verdadeiro page turner, mas precisei parar para anotar a fala de um velhinho que reclama com Alexis da postura dos aliados dos soviéticos:

—…O senhor, que é militar — prosseguiu o velho — responda: isso é correto? Há mais de um ano que enfrentamos sòzinhos o fascismo. Onde está a segunda frente prometida por nossos aliados? Olhe, imagine o seguinte quadro: um homem sem medo trabalhava de manhã à noite. É de repente atacado por bandidos. Tem coragem, enfrenta-os, embora sòzinho e êles sejam numerosos e bem armados, porque meditaram longamente o golpe. Os vizinhos, vendo o que se passa, espiam de longe e encorajam o homem que se bate. Bravos, dizem-lhe, desanque êsses vagabundos, com força. Mas em vez de lhe darem mão-forte para repelir os bandidos passam-lhe pedras e pedaços de ferro. Com isto será melhor, explicam, batendo assim é melhor. Enquanto esperam, ficam sàbiamente ao abrigo das pancadas. Pois sim, eis aí a política de nossos queridos aliados. Ficam olhando o que nós fazemos…

É fácil perder a dimensão do tamanho do sacrifício soviético na 2ª Guerra, especialmente se nos “educarmos” pela narrativa de Hollywood. Ter contato com histórias como a de Alexis dá uma dimensão do tamanho do esforço necessário para vencer na frente oriental.

Para quem só viu filmes estadunidenses sobre a 2ª Guerra e ouviu superficialmente que “morreu muita gente” na frente oriental, recomendo visualizações como a abaixo:

Veja as considerações sobre “as crueldades de Stalin com seu próprio povo” com um grão de sal (é um documentário estadunidense, anticomunismo é mato), mas a quantidade de mortos dá uma ideia de quem realmente “carregou o piano” no esforço para derrotar o fascismo.


Só encontrei esse livro na Biblioteca Municipal de Petrópolis e em alguns sebos, sempre por R$ 100,00 ou mais.

Está quase tão difícil de encontrar quanto o “A Colheita”, que faz parte da mesma coleção.

Proteja as bibliotecas. Elas fazem um trabalho de preservação de acervo importantíssimo.

As informações são efêmeras. Se ninguém republicá-los e não existir quem preserve as cópias existentes, esses livros da coleção “Romances do Povo” muito em breve estarão inacessíveis.

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